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Professora cria projeto para reaproveitar cascas de alimentos em receitas

O projeto, desenvolvido pela Escola Municipal Bela Vista, localizada em Carpina, para utilizar cascas de frutas e legumes para produzir pratos saborosos e nutritivos

Do G1 PE

Foto: Iris Costa/g1


Educação, alimentação, parcerias e muito empenho. Essa foi a receita utilizada pela professora Emanuella Fernanda para envolver alunos e mães da Escola Municipal Bela Vista, localizada em Carpina, na Zona da Mata Norte do estado, num projeto para utilizar cascas de frutas e legumes para produzir pratos saborosos e nutritivos.


Emanuella, que é chamada carinhosamente de Tia Manu pelos alunos, teve a ideia de montar um curso para ensinar a utilização do que iria para o lixo para a produção dos pratos, em prol do desenvolvimento social da região. Além de levar novos sabores para a mesa de casa, as receitas são uma oportunidade de empreendedorismo para as mães das crianças.


A ideia surgiu enquanto Emanuella trabalhava os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em sala de aula. Esses tópicos fazem parte da agenda 2030 das Nações Unidas no Brasil, que é um plano de ação global para a diminuição das desigualdades sociais. São eles:


ODS 1: Erradicação da pobreza;

ODS 2: Fome zero e agricultura sustentável;

ODS 4: Educação de qualidade;

ODS 17: Parcerias e meios de implementação.


O reaproveitamento de cascas também foi abordado na escola Bela Vista pela professora Ivani Claudino em um projeto de horta solidária. Pela conexão entre as propostas, as professoras se uniram para trabalhar em conjunto com as turmas do 4º e 5º ano, atendendo a cerca de 40 alunos e 16 mães.


“As crianças perguntavam o que era feito com as cascas, se iam para o lixo, se aproveitavam. Então, eu tive a ideia de estudar mais sobre o reaproveitamento. [...] Já existe na grade curricular a alimentação saudável, então, o projeto encaixou perfeitamente. A gente tenta adaptar a agenda 2030 na Base Nacional Comum Curricular”, explicou Emanuella.


Para tirar a ideia da cabeça e colocar na prática, a professora buscou outras instituições para trabalhar em parceria.


“Eu fui à Secretaria da Mulher pedir apoio, já que a escola não tem estrutura. Ela abraçou o projeto, cedeu o espaço e o curso aconteceu todo na secretaria como parceria”, afirmou.


Além da Secretaria da Mulher de Carpina, uniram-se à proposta o Instituto Maurício de Souza, cedendo gibis sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e empreendedorismo; o chefe de cozinha Lamartine Nascimento, que cedeu duas receitas, e a Oxente Biomassa, com as chefes voluntárias Ana Márcia e Maria José, que criaram duas receitas especialmente para o projeto.


A biomassa é um creme feito de banana verde, cozida e processada. Ela é usada para estruturar as receitas e tem função semelhante à que é cumprida pelo trigo junto com o leite. Ela tem sabor neutro e pode ser utilizada tanto em pratos doces, quanto em salgados.


“Elas [chefes da Oxente] criaram as receitas a partir dos alimentos que eram servidos na cozinha. Com a melancia, foi feito o doce como sobremesa. A macaxeira era servida normalmente. Elas adaptaram e fizeram o escondidinho com a entrecasca da macaxeira para os alunos experimentarem os novos sabores”, explicou a professora.


Fabiana Maria da Silva foi uma das mães que participou do projeto. Ela é mãe de Wemerson Gabriel, aluno do 5º ano. Atualmente, ela se prepara para começar a vender o doce de melancia na feira da cidade.


"Eu sou dona de casa, mas, depois desse curso, vou começar a vender os doces no domingo, aqui na feirinha, para ganhar um dinheiro extra e complementar a renda", contou.


Para o aluno do 5º ano Edson Rodrigues, além de ser divertido, o projeto permitiu que a turma aprendesse mais sobre a importância de uma alimentação de qualidade.


“As aulas estão muito divertidas e com muito aprendizado. As receitas são importantes porque elas dão carboidrato para o nosso corpo”, disse o estudante.


Mudança na trajetória

A professora Emanuella tem 39 anos, mas apenas dois de carreira na educação. Antes, ela trabalhava no comércio local, mas viu dentro da própria família a inspiração para recalcular a rota e mudar de rumo, sem olhar para trás.


“Minha mãe era professora, meu irmão é professor, tenho toda família na educação. Esse mundo sempre me encantou, as crianças e a educação. Eu era comerciante, mas não estava feliz. Sou feliz agora, como professora”, afirmou.


O impacto direto na vida dos estudantes é o foco principal da professora. “Eu tenho pouca experiência, mas eu sempre trago uma educação de qualidade para essas crianças. A gente tem que atravessar o muro da escola. As escolas municipais também têm esse dever”, declarou.


Voluntárias do projeto, as sócias da Oxente Biomassa, Ana Márcia Nascimento e Maria José de Lima, também transformaram suas carreiras profissionais recentemente.


Com mais de 20 anos de confeitaria tradicional, Márcia desenvolveu uma alergia alimentar a leite e trigo, ingredientes básicos da culinária. Após confirmar o quadro, o médico comunicou que Márcia não poderia continuar trabalhando do mesmo modo.


“Eu não sabia que meu estado de saúde era tão grave. Meu intestino estava altamente inflamado por conta do glúten, devido aos muitos anos trabalhando exposta à farinha de trigo. Já era uma inflamação crônica”, contou.


Márcia e Maria escolheram continuar na confeitaria, mas precisaram fazer adaptações para evitar o contato com a farinha de trigo. A partir daí, a biomassa se tornou protagonista na vida e no negócio das duas sócias.

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