O PL 01/2021 agora segue para a sanção do prefeito João Campos (PSB), que se aproximou dessa cena artística durante as eleições municipais de 2020
Do Diario de Pernambuco
Foto: Arquivo pessoal/Divulgação
Brega/Recife
Em mais um passo para a institucionalização da música brega enquanto manifestação cultural de Pernambuco, a Câmara Municipal do Recife aprovou, nesta terça-feira (1º), o Projeto de Lei que torna o movimento brega um Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. O PL 01/2021 é de autoria do vereador Marco Aurélio Filho (PRTB) e agora segue para a sanção do prefeito João Campos (PSB), que se aproximou dessa cena artística durante as eleições municipais de 2020.
De acordo com a justificativa, o título "é uma forma de incentivar e valorizar os artistas, dançarinos, empresários e todos aqueles que direta ou indiretamente contribuem com o cenário econômico e cultural da cidade do Recife".
"Nosso principal objetivo com a iniciativa é valorizar um movimento popular que gera oportunidade, renda e emprego. Nossa luta além de valorizar toda uma cadeia produtiva que está envolvida, solicita que qualquer evento cultural na cidade tenha em sua grade pelo menos um representante do frevo e um do brega", diz o vereador Marco Aurélio Filho.
Na opinião do pesquisador Thiago Soares, autor do livro Ninguém é perfeito e a vida é assim: a música brega em Pernambuco (2017, Outros Críticos), esse processo de "institucionalização" começou em 2017 com a Lei nº 16.044/2017, proposta pelo deputado estadual Edilson Silva (PSOL) e aprovada com unanimidade na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Foi quando o gênero passou a ter espaço nas grandes de eventos financiados pelo executivo.
"Agora, essa aprovação traz um novo processo, dentro de uma dinâmica de patrimonialização. Será possível pleitear outros dispositivos, com uma nova chancela de importância. Também reforça a necessidade da realização de pesquisas do brega. É importante que a ideia de patrimônio não fique apenas no papel, mas que existam políticas públicas", diz Soares.
O Conde do Brega (nome artístico de Ivanildo Marques da Silva), comenta que o reconhecimento da Câmara pode ajudar a incluir artistas nas programações municipais e também estaduais. "Os vereadores têm força pelo maior contato com o povo e o brega é algo que toca o coração das pessoas, principalmente nas favelas. Isso tudo faz parte do brega. Hoje as pessoas escutam muito sertanejo, mas não muda muito para o que sempre fizemos", diz o cantor, que também ressaltou a importância do cessar da pandemia até o final do ano. "Precisamos voltar a viver, estamos passando por uma situação muito complicada".
Michelle Melo, que ficou conhecida na Banda Metade e hoje é considerada a "Rainha do Brega", diz que "o projeto vai enaltecer ainda mais um movimento feito por trabalhadores da área mais carente, podemos dizer assim, da música". "Porque, na verdade, a história do brega é a história da periferia, a história de um povo que sofre, mas que não perdeu a vontade de sonhar, e que não perdeu a coragem e a força para ir atrás dos seus objetivos. Ser brega é não ter medo de viver seus sonhos", conta a cantora.
"A importância do projeto é o reconhecimento de fato, desde o brega de Reginaldo Rossi até o de agora", diz Victor Ronã, um dos assessores mais antigos do brega-funk, hoje responsável pela comunicação da BregaInnFunk (que cuida de nomes como Tróia, Abalo e Terror). "Queremos levar mais para frente essa cultura, que já estava sendo expandida pelo país e pelo mundo. Acho que podemos ter mais abertura com o poder público e com outros estados."
Para Alexandre Vinicius, um dos criadores da página Brega Bregoso, que conta hoje com mais de 1,2 milhões de seguidores no Instagram, o título é um reconhecimento importante para todos os envolvidos com o movimento brega. "É de extrema importância o movimento ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial, colocando o brega em um patamar que já deveria estar. A iniciativa é um reconhecimento e vem para consolidar o brega, além de abranger o movimento como um todo, do passinho ao brega romântico", pontuou Alexandre.
Outras possibilidades no poder público
No final da corrida eleitoral municipal do Recife de 2020, o então candidato João Campos chegou a fazer propostas direcionadas ao movimento brega-funk, como inclusão nos ciclos festivos, criação de editais mais inclusivos, aulões de passivo nos equipamentos públicos e formação para jovens empreendedores que compõem essa cadeia produtiva. Diante do cenário de pandemia, resta aguardar para ver se essas propostas serão colocadas em prática pelo executivo.
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